Etapa 29 | Pitões das Júnias – Gerês
Hoje pedalámos pelos trilhos mais profundos do Parque Nacional da Peneda-Gerês, onde os tons de verde da vegetação exuberante e os tons de azul das águas cristalinas que reflectem os céus, são a contemplação de um quadro de beleza, sinónimo de uma pureza e de uma harmonia da natureza sem igual. De facto, pedalar no Gerês é viver a natureza mais pura de perto, num local onde até o silêncio chega por vezes a ser difícil de encontrar porque a vida abunda para qualquer lado onde se olhe. Este é um local onde verdadeiramente se sente a vida!
Reconhecido pela UNESCO como reserva da Biosfera, este é um verdadeiro tesouro, um lugar único onde podemos dizer que a natureza e o homem ainda hoje se misturam em perfeita harmonia. De facto, o Parque Nacional da Peneda-Geres é também a única área protegida classificada como Parque Nacional (em todo o território) e a primeira área a ter sido reconhecida e protegida, dadas as suas características e particularidades. Pitões das Júnias, por sua vez, é não só a aldeia mais alta de Portugal, mas também uma das aldeias onde ainda hoje estão mais preservadas as tradições e os valores mais antigos. Talvez também por isso seja para nós um lugar tão especial.
As poucas descidas e as inúmeras subidas, neste dia de traçado difícil, levaram-nos a observar as mais lindas paisagens de montanha, num percurso que estávamos ansiosos por percorrer e que facilmente podemos dizer que será um dos mais bonitos do Bike Around Portugal. Começámos de manhã cedo, à semelhança dos dias anteriores, depois de um pequeno almoço recheado com todos os produtos locais. Foi assim, que nos despedimos, uma vez mais, de Pitões das Júnias, deixando a promessa de um voltar não muito distante. Regressamos à estrada que tem apenas como destino esta bonita aldeia e num ritmo suave mergulhámos ao encontro do Gerês mais profundo.
Uma longa descida levou-nos até à barragem da Paradela, que se situa a 110m acima do nível do mar, a qual é considerada uma das mais emblemáticas albufeiras do concelho de Montalegre. Depois seguimos sempre pela encosta sul do Gerês, onde as paisagens sobre as montanhas são soberbas e o traçado, esse… digno de uma com o seu sobe e desce constante. Uma longa descida levou-nos depois até Cabril.
Porque conhecer o Gerês é conhecer também os seus locais mais inóspitos, o desafio passou por ultrapassar o “muro” de Pincães, uma subida muito agreste que nos levou até à vila de Fafião. Aqui tivemos a oportunidade de conhecer alguns produtos tipicamente de produção nacional, como champôs sólidos (muito úteis para viagens), doces tradicionais e licores produzidos a partir dos preciosos frutos da região.
Depois da pequena paragem, descemos ao encontro do rio Fafião, onde tivemos a oportunidade de visitar algumas das famosas cascatas do Gerês, como a do Tahiti e a do Arado.
Visitámos o miradouro da Pedra Bela e depois de uma longa descida com cerca de 10km chegámos por fim àquela que é a chamada “capital informal” do Gerês, a bonita vila do Gerês. Bem mais movimentada do que qualquer outra aldeia ou povoação nas proximidades, é muito conhecida pelas suas águas termais que datam do tempo romano. Desde esse tempo que as águas do Gerês são consideradas especiais e exemplo disso é o escrito latim que podemos encontrar junto à fonte da Bica, que nos diz que “os doentes saem sãos”, denotando a importância destas águas na cura de doentes.
O nosso descanso será nas Águas do Gerês Hotel, Termas & Spa. Aqui procuraremos repor as energias para mais uma etapa com data marcada para amanhã e que nos levará até Ponte de Lima.
Contudo, ainda que hoje tenha sido, sem dúvida, um dia em que pedalámos ao longo de um dos pulmões mais bonitos e mais verdes de Portugal, e que ao longo do nosso texto falemos de todas as coisas boas que fazem parte desta maravilha, foi com tristeza que assistimos a um Gerês cada vez mais descuidado (principalmente nas zonas agora ditas como turísticas). Infelizmente, o excesso de carros e de lixo foi também uma presença muito marcante nesta etapa, reflexo de uma procura exponencial e pouco consciente face à importância da preservação do planeta. É urgente todos contribuirmos para reduzir a nossa pegada ecológica, por um mundo melhor.